Contexto da Viagem: Depois da nossa experiência não tão positiva na Albânia, ainda restava em nós a vontade de descobrir novos cantos do mundo. Mas, naquele momento, tudo o que mais queríamos era voltar para uma atmosfera mais acolhedora. Como já tínhamos uma passagem comprada saindo de Montenegro com destino a Londres, seguimos em frente — com o coração apertado, mas com foco no próximo destino.
O plano inicial era explorar toda a costa dos Bálcãs e, dali, voltar para a Itália. Mas os acontecimentos na Albânia nos fizeram mudar completamente o roteiro.
Saímos bem cedo da nossa última acomodação em Tirana, que ficava ao lado da estação rodoviária. Havíamos comprado as passagens online pelo site da FlixBus — foi prático e nos poupou o estresse de negociar pessoalmente, embora também fosse possível comprar no guichê.
Surpresa: o “ônibus” acabou sendo uma van. No fim, tudo certo.
A viagem até Podgorica, capital de Montenegro, durou algumas horas e teve seus momentos curiosos. Nós duas éramos as únicas pessoas negras na van — o que, sinceramente, já nos deixou mais alertas, especialmente depois do que havíamos vivido na Albânia. Mas tudo correu bem… até demais.
Atrás de nós, havia um casal alemão. Infelizmente, o odor corporal do rapaz era forte, e cada vez que ele abria a boca para conversar com a esposa, eu sentia uma nuvem quente no meu pescoço. Sim, bafo! (risos nervosos)
Também estavam na van um libanês (que mais tarde esqueceria seu notebook dentro do veículo — e eu mesma ajudei a recuperá-lo), um casal de Porto Rico e uma moça da França. Um grupo bem misturado, o que me fez pensar: “Ah, Montenegro deve ser mais aberto ao turismo…“ Bom, nem tanto — mas já chego nessa parte.
A Imigração Mais Tranquila da Vida
A imigração de Montenegro se revelou, sem exagero, a mais tranquila de todas que fizemos durante a viagem. Diferente da Albânia, paramos na fronteira, descemos da van e imediatamente nos alinhamos na fila com os passaportes em mãos. O processo ocorreu numa janelinha estilo pedágio e, para nossa surpresa, o oficial nem solicitou nossos documentos — reservas de hospedagem, passagem de saída ou comprovantes financeiros ficaram intocados. Ele simplesmente carimbou os passaportes e nos liberou.
Depois disso, seguimos viagem e aproveitamos uma breve parada numa cidade turística montenegrina. O lugar era bonitinho e deu vontade de ficar, mas sabíamos que precisávamos seguir para Podgorica.
Chegada em Podgorica
Chegando à rodoviária de Podgorica, percebemos que o espaço era bem estruturado: havia banheiros limpos, bancos para descanso, lanchonetes e, claro, os famosos cachorrinhos de rodoviária — tão adoráveis quanto tristes.
Enquanto esperávamos pelo horário do check-in, tivemos a sorte de encontrar uma acomodação excelente. O apartamento ficava a apenas 300 metros da rodoviária e praticamente sobre um shopping da cidade, com supermercado e conveniências por perto. Foi um verdadeiro achado, que nos deixou muito aliviadas e prontas para explorar a cidade.
A Cidade em Si: Um Lugar de Passagem
Podgorica oferece poucas atrações, e, originalmente, planejávamos explorar toda a costa montenegrina, conhecendo muralhas, praias e paisagens. No entanto, depois dos perrengues na Albânia, decidimos abortar a missão. Nosso único foco passou a ser voltar para uma atmosfera mais segura e confortável.
Confesso que esse foi um erro meu. Durante o planejamento do mochilão, deixei-me influenciar por criadores de conteúdo que não tinham vivências semelhantes às minhas — e muito menos às da minha mãe. Eu consumi informações corretas, mas ignorei quem as transmitia. Desde então, mudei a estratégia: agora sigo principalmente mulheres negras, retintas e viajantes como eu. Embora os algoritmos do YouTube e Instagram dificultem encontrá-las, tenho garimpado criadoras incríveis dos EUA, Canadá, Reino Unido, Moçambique e África do Sul. Ver o mundo pelos olhos delas tem me ajudado a identificar destinos realmente acolhedores para nós.
Racismo na Estrada
Infelizmente, enfrentamos situações de racismo em dois países dos Bálcãs. Os episódios foram ainda mais intensos em regiões onde o inglês não é amplamente falado, o que dificultou a comunicação e aumentou a sensação de vulnerabilidade. Frequentemente, escutávamos gritos na rua, imitações de macaco e outros ataques absurdos, até mesmo em mercados ou caminhando pelas cidades.
Não estou exagerando: pessoas nos insultavam de dentro dos carros e outras nos olhavam com desprezo. A experiência foi real, pesada e dolorosa. Por isso, senti culpa constante. Como organizadora das viagens, eu escolho os destinos e, de certa forma, coloco minha mãe nessas situações. A culpa e o medo nos acompanharam durante essa parte do mochilão.
Nem Tudo Foi Ruim
Apesar dos desafios, também tivemos encontros positivos. Um senhor no trem para a cidade do aeroporto puxou conversa, contando que estudava português para realizar o sonho de visitar o Rio de Janeiro. A conversa foi respeitosa, simpática e genuinamente interessante.
Nossa anfitriã em Podgorica também nos encantou. O apartamento que alugamos pelo Booking custou cerca de R$ 650,00 e se mostrou super aconchegante. A decoração era linda, especialmente o quadro onde ela exibia bilhetes aéreos de suas próprias viagens. Adorei tanto a ideia que agora também imprimimos nossos bilhetes para guardar como lembrança.
A Caminho do Aeroporto ✈️
Como o aeroporto de Podgorica ficava relativamente longe, decidimos não gastar com o táxi, que custaria entre 35 e 50 euros. Optamos por reservar uma hospedagem próxima ao aeroporto, que incluía transporte incluso. Dessa forma, economizamos e ainda ganhamos praticidade.
Pagamos R$ 235,50 pela diária, reservada pelo Booking. O local oferecia cozinha completa, banheiro privativo, quarto confortável e uma varanda térrea charmosa. Embora fosse possível caminhar até o aeroporto — cerca de 30 minutos — aproveitamos o transfer sem pensar duas vezes. Quando o voo partiu pontualmente para Londres, sentimos um alívio enorme, finalmente prontos para seguir viagem com tranquilidade.
Considerações Finais 💛
Se fosse para dar uma nota a Montenegro, eu daria a mesma da Albânia: 7,5. A experiência foi válida, cheia de aprendizados, mas não voltaria jamais a nenhum dos dois países. É importante destacar que cada vivência é única; ninguém terá a mesma experiência que a nossa.
Meses depois, o YouTube me mostrou o vídeo de uma mulher americana que largou tudo para morar na Albânia — e ela estava amando a vida por lá. Isso reforça que cada viajante vive realidades diferentes. Portanto, não leve meu relato como regra, mas sim como um alerta: viaje com olhos abertos e pés no chão.
Viajar é maravilhoso, mas exige preparo emocional, especialmente quando se é uma mulher negra explorando países menos diversos. Se você planeja conhecer os Bálcãs, espero de coração que encontre experiências lindas, histórias incríveis e, acima de tudo, respeito e acolhimento em cada lugar que visitar.